Hoje senti-me leopardo. E tive talento suficiente para gostar de mim, e orgulhei-me disso, nem que fosse só por hoje. Tenho alguma dificuldade em aceitar que tenho sentimentos, mas isso acontece (ou vai acontecer) a todos. Hoje fui leopardo de olhos esbugalhados, e fechada na minha camuflagem pude observar tudo. Hoje fui leopardo e pude ouvir só o que queria ouvir. Fui hoje leopardo atento e, embora não me desfizesse da sempre minha insatisfação (sobretudo desilusão) habitual, conformei-me mais do que o, digamos, normal...e gostei de viver aqui. Hoje não persegui gazelas doentes, e hoje não feri a pata num poço de lama. Hoje sangro menos do que o habitual, isto porque não há ligaduras que segurem por muito tempo. As ligaduras ficam para trás, assim como muitas mais coisas ficam para trás. Hoje ri-me das vozes que parecem querer morar comigo. Não me importo. Já deixaram de me assustar quando sussurram (ou gritam) o meu nome. Hoje o leopardo, pareceu-me, sorriu. Mas se olhares muito fixamente, ele desvia o olhar. Ainda não está acostumado (e resignado) a ter de viver contigo, consigo, mas sobretudo, com eles. Aqui. Neste lugar que parece ser de todos (mas na prática, é mais de alguns do que de outros).
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