mardi, février 23, 2010

Preciso mesmo disto; de escrever como quem anseia por oxigénio. Preciso de usar o meu tempo nisto, preciso de escrever como que se o tempo acabasse e eu não tivesse mais vidas para gastar, que não as comprei com as moedas necessárias. Depois avisto no ecrã um enorme "game over" escrito a letras azuis e paro, fico a olhar. Olho, mas não vejo. Ao fim ao cabo é o que todos fazem. Tento a todo custo cruzar a meta mais depressa, escalar a montanha da forma mais veloz, agarrar todas as palavras como quem come uma canja em dia de doença. Mas eu até nem gosto de canja, e abano a cabeça do jeito de quem recusa algo que faz bem. Estou doente. Mas a minha doença não tem pintinhas vermelhas ou feridas nos joelhos. Estou no fundo, bem lá no fundo de tudo. Não tenho nada, e estou perdida. Sou tão feliz, mas isto dói. Dói mesmo. E deus queira que não seja a adolescência, ela não pode ser mais forte do que eu, não pode. Senão estou vencida por todos, até por mim mesma. Sou má, sou tão má pessoa. Cometo erro atrás de erro, e o consciente e o inconsciente confundem-se. Quem és tu, Alice? E quem és tu, Inês? Eu anseio por ti, por vocês, que sinto-me despegada, corpo sem alma. Preciso do espírito, preciso de sinais, eu não sei mais o que fazer. Só não quero ficar como o resto do mundo. Sou sim, utópica. Mas tenho treze anos, e tenho os meus sonhos de asas cortadas. Quem tudo sonha, tudo ambiciona, é para sempre criança. E eu sou velha. Dói-me, só queria que soubesses isso. Mas é uma dor suportável, e boa. Faz-me crer que estou viva, de verdade. Mesmo quando tudo o resto me diz que não estou. Não sei o que espero mais de tudo, mas acredita: não consigo recusar a estes pensamentos, estas dúvidas. Sou hoje tornado pior do que qualquer vendaval, sou hoje leão que ruge ao mundo no alto de uma montanha. Sou hoje pássaro de asas cortadas. Sou hoje tudo aquilo que não aparento ser, e no entanto sou. Oh, meu Deus, dá-me coragem para seguir em frente, neste mundo louco do qual eu faço parte. Sou louca também. E não preciso de quaisquer correcções. Que hoje sou dona do mundo inteiro, inclusive daquela língua só minha. Quero, sim, beijar o chão de África e sentir a terra escura e quente cor de café nos meus pés descalços. Quero, sim, abraçar o céu como quem não espera mais nada da vida. Por favor, reconstruam-nos o mundo para que possamos sujar os nossos vestidos brancos de linho na terra preta e escura que é o coração de tudo. O calor, os leões, e as gazelas. A vida em bruto, sem máscaras, sem defeitos nem qualidades. Eu já não suporto mais chorar por aquilo que nunca terei, porque simplesmente não é assim, e eu não posso desejar aquilo que não é. Amo-te, em todas as línguas do mundo. Mas perdi-me. Até lá, espera por mim, pode ser que eu encontre (num outro dia, num outro lugar; mas tu já sabes disso) o caminho para chegar até nós. Sei todos os pronomes classificados, mas não sei a que pessoa pertenço.
Preciso de ti, amor. De ti, Alice.
De alguém que saiba preencher o vazio que hoje sinto no coração.

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