É promíscuo, mas eu gosto. As minhas costas estalam e contorcem-se com o frio. Esperneio, qual leque de papel feito em cima do joelho, a circulação do ar transmite-me um calor rápido que depressa esqueço. Farei um hemograma; com tantas pisaduras no meu coração, decerto aquele líquido escuro não estará em bom estado. Abro-o e descubro-o oco... Não poderei mais ter pensamentos impensáveis. Avisto a vulgaridade, e escondo-me, mas denunciam-me as palavras. Falhei no ofício e reprovei no exame. Tenho frio, pois o coração está aberto. Apetece-me seduzir o mundo, e faço-o, de facto, pois é um acto humano, deliberado. Estou consciente das minhas acções e daquilo que provoco. Não paro de escrever. Trinquei a maçã e, porque saciei a fome, não poderei mais voltar ao Jardim do Éden. Sou perita em tirar emoções do poço, alquimia dos sentimentos, também eu tento coisas impossíveis. Formulo opções ainda não vislumbradas. Misturo pólos que se repelem, e junto-os com força. Magoo-me, pois o meu coração é de carne. Levá-lo-ei qualquer dia a cientista de enorme calibre, para que este o transforme em ferro, utilizando para tal qualquer reacção nuclear que eu ainda desconheça. Grito, pois sinto dor. Quero senti-la, ainda que não a tenha experimentado. Assim poderei vivenciar emoções reais e outras imaginadas, e só desta forma, com tanto e com pouco, me poderei sentir viva. Dilacero corpos inúteis na minha mente, e apercebo-me de que nesse instante sou a rapariga de catorze anos mais corajosa do mundo. Sublime e intocável, na periferia de uma ferida que nunca será cicatrizada. Mas é saudável e natural, diz a minha professora de geologia...