mardi, novembre 16, 2010

Escrever é oferecer algo de novo ao mundo. Às vezes acho que o mundo não merece muito, e então não escrevo. Convém que nos dias de teste de português não esteja zangada com o mundo, senão é o descalabro total, e tal não pode acontecer. A vida é feita de números. Penso nisto enquanto olho para a minha chihuahua, que tenta desesperadamente assustar as minhas pantufas inanimadas. Mal sabe ela que os dois cães de pelúcia que possuo a meus pés são fictícios, e rio-me para mim mesma. Se a Carolina estivesse aqui, diria: "inteligência canina", e eu concordaria. A minha cadela é medrosa e prudente. Tonta. Os cães são tontos. Às vezes esforço-me para ser um pouco cão também, e por vezes creio conseguir. Esqueço-me se consigo. Quando somos outras coisas que não pessoas, não nos lembramos que as fomos. Talvez eu tenha sido muitas coisas. Os adultos também foram crianças, mas não se lembram de o ser. Não me quero esquecer, por isso olho de forma desconfiada para todos os meus professores. Sinto-me ridícula, ali sentada. Não gosto de perder tempo, e depressa bato o pé e deixo a caneta azul cair ao chão. Às vezes penso que é tudo uma enorme artimanha para que nos esqueçamos de sermos crianças. Em relação a tudo o resto, dou-me por satisfeita, pois começo a compreender o mundo, ou pelo menos a realidade da minha mente, que é  também o mundo. Quero ser do tamanho daquilo que vejo. Apoiar-me-ei nos ombros de gigantes, Einstein de cabelos desgrenhados, tendo em comum, para além do cabelo, a imensa curiosidade por tudo aquilo que me rodeia. Tenho uma vontade sôfrega de conhecer a verdade, e então não suporto quando erro. As pedras que apanho não são para construir castelos, mas sim para partir janelas de vidro, daquilo que são as ilusões de cada um. Sou paradoxal. Gosto. Aliás, os paradoxos são das minhas figuras de estilo preferidas, principalmente porque descrevem exactamente como é tudo. Vim para Ciências porque preciso de um mapa, algo que guie o meu pensamento. Comecei o meu texto a querer comparar os números com a vida, e vejo-me perdida novamente pelas minhas visões juvenis e controversas, algo bloquistas, de toda uma biologia e cosmologia existentes. Não percamos tempo. Matemática são palavras cruzadas com solução óbvia. Química parece culinária. O amor ainda não sei. Está mais difícil. Não tenho tempo para tudo, e sei que daqui a uns dias terei de optar por pedaços de mim. Desintegrar-me-ei, matar-me-ei várias vezes. Não vivo sem mim. Escolho não viver. Não escolho o mundo, nem nada. E ninguém ainda estudou aquilo que não é o mundo. Não terei nada para estudar e para aprender. Tenho medo dos erros e da vida. Há certas coisas que ainda não compreendi bem. Não sou levada a sério em muitos aspectos. No mesmo dia sou acusada de maturidade a mais, e maturidade a menos. Não sei qual é o meio termo, e acho que nem o quero atingir. A vida, quando analisada de fora, é estranha. É brincadeira. Somos de cartão. E a minha chihuahua nem sonha.

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