anatomia

Temos o estranho e comum hábito de nos viciarmos sempre em algo que nos faz mal. No meu caso, por exemplo, posso constatar que sou viciada em sofrer psicologicamente por antecipação. Deus dá nozes a quem não tem dentes, o meu riso louco solta-se ao ouvir esta afirmação, odeio provérbios, já que todas as regras têm excepção incluindo esta! Tenho grande força e energia para ser uma pessoa tão feliz, tão exuberante e disponível e no entanto sinto-me velha, pesada com as minhas culpas...os erros que cometi e os que estarei para cometer também, num outro dia, num outro lugar. É sempre assim, todos temos o nosso pequeno lado insatisfeito, aquele bichinho sempre a remoer-nos num determinado recanto da mente, provocando-nos sentimentos desconfortáveis tais como a inquietação e a ansiedade...tudo suportável, óbvio. Se assim não fosse, eu já não estaria aqui. No entanto, espero um dia libertar-me desta camada masoquista, espero que isto seja apenas um casulo para que eu possa brilhar com mais força! Serei ilusória, idealista, falaciosa? Espero bem que não. Não sei que porção de inocência e ingenuidade me pertence por fim. Não me agrada a ideia de me tornar apenas mais uma. Os adultos, esses, falam de um desejo enorme de voltarem a ser crianças, porque é que têm de estar sempre tão insatisfeitos? Culpa, arrependimento, vontade de serem diferentes? Inquieta-me tanto, esta tal palavra: personalidade. Um dia hei-de descobrir o seu significado, e aí saberei com todas as provas científicas necessárias para tal, se sou dona de mim mesma ou não. Não confio nas emoções e nos sentimentos, eles atraiçoam-me. Levam-me para um lugar onde eu volto atrás, onde perco o meu casulo... e aí sinto-me fraca para me proteger, sinto-me mais pequena. Cada um com a sua máscara. Um dia hão-de incluir esta pequena membrana psicológica na anatomia humana, dando-lhe um qualquer nome mais científico que lhe assente bem. Tudo tem de ter o seu lugar, tudo tem de ser classificado, pois nós, humanos racionais, detestamos coisas que andem à deriva aparentemente sem sentido. Caçadores de sóis, luas e estrelas. Eu só estou à procura de mim mesma, para já. Um sentido, uma pista, um desejo de ter coragem para ler nas entrelinhas desta vida.