Em tempos conheci uma menina. Ela era muito engraçada. Quando ia para as festas dos crescidos, com os seus vestidos rodados de princesa, apressava-se a roubar o máximo de croquetes da bandeja, e ia deliciar-se sozinha para um dos cantos escondidos da casa. Quando era oportuno, pedia uma folha de papel. Duas, para ser mais exacta. Marcadores e lápis de cor, também convinha. Ela adorava desenhar e pintar, ainda que não o fizesse muito bem. Preenchia cada espacinho branco com planetas disformes e coloridos, e apontando para o maior e mais bonito, dizia: "foi daqui que eu vim". Ela olhava e sonhava. E lia, porque de certeza que falavam desse misterioso e especial planeta num dos livros que algum primo mais velho possuía. A menina lia e lia muito. Já em pequena aparentava olhar sabichão de quem muito sabe em tão tenra idade. Sapiência da inocência, diria eu. Em tempos conheci uma menina. Conheci-a, porque a menina era eu. Um dia, perdi-a. Desde então, tenho andado à sua procura.
Sem sucesso, aparentemente. Mas a verdade é que os croquetes continuam a desaparecer da bandeja.
1 commentaire:
Mia, ler o teu blog, desperta em mim, um misto de sensações incríveis.
A sério, adorei este post. Talvez um dos meus favoritos, embora nunca tenha lido o teu blog todo.
A tua escrita é alggo de sublime:$
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